Sites de financiamento
coletivo ganham força no Brasil
Plataformas mobilizam a comunidade virtual em torno de
iniciativas que precisam de recursos para sair do papel.
Por Renata Bello
O crowdfunding, conhecido no
Brasil como financiamento coletivo, é uma prática que vem
ganhando força na internet. Através de sites específicos, o empreendedor
apresenta sua criação ao público e expõe qual
valor necessário para a execução
do seu trabalho. O objetivo é conseguir a contribuição de pessoas para viabilizá-lo
financeiramente dentro do prazo estipulado.
A iniciativa começou no exterior com o site Kickstarter, fundado em 2009
por três sócios que queriam ajudar propostas criativas dos mais diversos
segmentos a ganharem vida. Segundo o próprio site, em março deste ano foi
atingida a marca de 1 bilhão de dólares arrecadados desde seu lançamento e 6
milhões de colaboradores para mais de 130 mil propostas ligadas à plataforma.
No Brasil há diversos sites que possibilitam que o empreendedor publique
seu projeto e tente captar os recursos necessários. Inicialmente não há custo algum, mas caso a ideia seja
bem-sucedida, o site fica, em geral, com uma comissão entre 5% e 7% do valor
arrecadado. Se a meta não for atingida os investidores recebem o dinheiro de
volta.
Alagoas também tem ganhado adeptos dessa prática. A banda de pop/rock
$ifrão é uma das que apostaram nessa iniciativa e obtiveram sucesso. Através do
site Catarse a banda conseguiu arrecadar 5 mil reais para a gravação de um
video clipe. “Apostamos nisso e só foi possível se concretizar com a colaboração
de amigos e pessoas que se identificam com o nosso trabalho”, conta o vocalista
da banda, Marcos Bruno. Para ele, há dois fatores que podem determinar o
sucesso de uma campanha como essa. “Se você tem o público já formado fica mais
fácil, foi o que aconteceu com a gente. Por outro lado se você tem apenas uma boa
ideia, ela pode naturalmente ganhar força pelas redes sociais e se
concretizar”, completa.
Conforme o estudo Retrato do
Financiamento Coletivo no Brasil desenvolvido em 2013 pela Chorus, empresa
de pesquisa com foco em projetos ligados à cultura e sociedade, as propostas que
mais despertam interesse das pessoas são aqueles ligados a atividades
artísticas independentes. Elas contam com 52% da preferência dos entrevistados.
Em segundo lugar estão aqueles de caráter ambiental e social, preferência de
41% dos entrevistados. O empreendedorismo ligado a novos produtos e
iniciativas aparecem em terceiro lugar
com 24%.
Acostumado a produzir shows através do site Queremos, plataforma que
busca conectar fãs com produtores musicais, o produtor musical alagoano Marcelo
Melo acredita que o engajamento do público é fundamental. “Para tentar realizar
esses shows, sempre consulto o público nas redes sociais e procuro ficar atento
ao que eles querem. Um fã engajado compra a ideia e ajudar espontaneamente com
a divulgação. Eu apenas a lanço, o mérito é todo deles”, afirma.
São diversos segmentos que já recorrem a essas plataformas para produzir
seus ideais. No primeiro semestre de 2014 a banda Dead Fish bateu o recorde de
maior financimento coletivo no Brasil. O objetivo inicial era arrecadar 60 mil reais
para produção de um disco de vinil em comemoração aos 20 anos de banda. O
número foi superado, recebendo mais de 200 mil reais através de 2600 apoiadores
em 45 dias de arrecadação. No segmento social, as incursões dos grupos Expedicionários da Saúde e S.A.S.
Brasil também são casos de sucesso. Em abril, graças aos R$ 34 mil coletados, a
equipe de voluntários levou atendimento cirúrgico à população indígena do
Parque do Xingu, no Norte do Mato Grosso.
Como forma de incentivo é oferecido recompensas os colaboradores, que
varia a depender do valor da contribuição. Para Diego Reeberg, um dos
fundadores do Catarse – o primeiro do segmento no Brasil – em entrevista ao site Sebrae Pequenos Negócios
e Finanças, oferecer boas recompensas à quem colaborar deixa a a campanha mais
atrativa. “As recompensas
oferecidas dependem do tipo de projeto e se alternam entre agradecimentos nas
redes sociais, comprovação de
resultados, como DVDs e CDs, e até faixas de preço especiais para
patrocinadores. Elas são importantes para o site não ficar martelado como de
doação e sim de troca de valores. Muitas vezes são trocas simbólicas”, ressalta.
Não basta apenas doar, é preciso
ficar atento a prestação de contas do projeto. É o que acredita o estudante de designer gráfico e colaborador Ragner
Leite, “Acho importante também fazer o papel de fiscal e ficar de olho nos
prazos que estipulam para cumprir sua proposta. Já contribuí para causas
diversas, de negócios ambientais até lançamentos de CD, fico honrado de ter meu
nome nas causas que acredito”, conta.
Segundo a agência americana de pesquisa Massolution, em 2013 esse mercado movimentou mais de 5 bilhões de
dólares. A estimativa é que em 2025, em todo o mundo, esse tipo de investimento
chegue a 90 bilhões de dólares, conforme projeção do Banco Mundial. No Brasil, os sites Catarse,
Benfeitoria e Juntos, que formam a maior parte do mercado, somam quase 21
milhões de reais e mais de 1.300 ações.
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